julho 17, 2006

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kryptonite



Hoje eu decidi postar mas não de mim. Decidi postar das coisas que vejo do lado de fora das janelas, as pessoas que eu vi uma vez e nunca mais vou ver, e daquelas que nunca vi, e daquelas que sempre vejo mas nunca interagi, das que eu interajo por rotina, mérito ou obrigação. Enfim, nem tanta gente assim, mas um pouco de reflexão sobre os seres.
Ontem eu tava indo pra casa de carona com o Ene, a gente foi num barzinho da Lima e Silva (Cavanhas), tomou umas cevas e foi embora relativamente cedo (trabalhar no outro dia, né meu filho :/).
Na sinaleira, como de costume, tinha um piá dos seus 11 anos limpando um pára-brisa de uma... ahm... caminhonete grandona, preta, sei lá se era uma Cherokee... eu só reconheço carros velhos mesmo... hehe... e aí depois do trabalho feito, o piá chegou no vidro e disse pro tiozinho: "Aí, tio, tem uma moeda aí?" e o cara responde: "Tenho, mas a coisa tá feia, peraí. (...) Ó, toma." e larga a moeda na mão do menino, que olha e revida espantado: "UM centavo, tio?!? UM centavo?" e o cara responde "É, tá fraco!". A reação do guri eu nunca tinha visto. Ele pegou a moeda, DEVOLVEU pro cara e disse: "Tio, fica com isso, vai te fazer falta." e a sinaleira abriu, o guri correu entre os carros pra não ser atropelado, o cara arrancou no seu carrão de luxo e eu e o Ene ficamos embasbacados com o que o guri fez. Não o fato de ele ter devolvido a moeda, se fosse eu mandava engolir, mas pelo fato de ele ter dito "Vai te fazer falta." Nessas quatro palavrinhas o cara foi xingado de murrinha, egoísta, e sem ser insultado com palavrões. Não precisa de palavrão. Precisa de realidade. Verdade.
Agora outra situação: Paramos, dessa vez eu e o Sander, o carro na sinaleira. O guri veio, mais que ligeiro pra cima do carro com um pano na mão. Imediatamente o Sander disse "Putz, eu mandei lavar o carro anteontem!". Nisso chega o guri, sem nada na mão, e faz uma mímica perfeita como se estivesse lavando o vidro com aqueles rodinhos que eles usam. Fez perfeito! Os movimentos de ensaboar, tirar o sabão nos cantinhos, passar o paninho, levantar e baixar os pára-brisas, porém ele não encostou UM DEDO no carro. NADA. Quando ele acabou a peça, veio no vidro, fez um agradecimento teatral e disse "Bem limpinho, hein, tio! Tem uma colaboração pra mim?". Eu tava com uma grana na mão, não me lembro por qual motivo, mas acabei dando bem mais que o normal que se dá pra esses meninos, porque eu realmente achei a atitude dele, a idéia dele, genial! O guri se tornou uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço. Não sei, nunca mais vi ele. Mas nunca vou esquecer daquele mini-ator, com uma mini-vida, mini-esperança e uma idéia genial na cabeça.

Bem. Resumindo meus dias (afinal, esse é meu blog e eu vou falar um pouco de mim...) tenho trabalhado muito... muito, muito. Essa semana passada foi a última de um trabalho que estamos fazendo com a Microsoft... Acho que vai dar uma folgada. Mas nem por isso estou ruim, ou chateada. Mudanças diretamente relacionadas à relacionamentos (redundante!), coisas boas e ruins. As coisas ruins eu tento abstrair, e as boas, eu junto uma argamassa pra seguir construindo em cima. Tenho me olhado no espelho e ficado bem satisfeita, isso não acontecia há um tempo, teve uma época que eu me apaixonei por mim mesma, meio que uma fuga dos meus maus pensamentos naquele momento, mas já voltei ao meu normal, que é não ser normal. Não consigo ainda aceitar certas coisas, mas estou me adaptando à minha nova forma. Não só a externa, mas a interna também, e posso confidenciar que é difícil e eu ando vencendo barreiras. Meio triste com uma ausência que ainda não existe... assim como feliz com coisas que não aconteceream, coisas que não ouvi nem vi, porém me fazem feliz só de serem cogitadas como possíveis.

Situação do clima em Porto Alegre: Veranico meio desencontrado, atravessado na garganta do inverno, deixando todo mundo pestiado, gripando, farmácias cheias, e agora, hoje a chuva chegou pra completar a coisa desengonçada que anda o tempo. Nada anormal pra quem leva uma vida "el niño".

[Na foto, eu, óbvio, afinal,eu sou a heroína desse 'ploc' ;D ]

4 Thoughts:

Anonymous Anônimo declare...

Até que enfim. Preguiçosa.

A cena do carro realmente foi hilariante. Completamente inesperada. "Pô, um centavo tio? Um centavo???" Nunca vi ninguém devolver esmola na minha vida. Pra tudo tem uma primeira vez, não. Diga-se de passagem é bom ter 27 anos e ainda ver algo pela primeira vez. Este tipo de coisa é cada vez mais raro.

Tava sentindo falta dos seus posts ^^

8:33 PM  
Anonymous Anônimo declare...

O que eu sempre digo a todos e ainda continuo dizendo. A sabedoria não vem apenas da experiência, ela vem do coração e da maneira como cada indivíduo vê o mundo,vem do berço. O gurizinho realmente ironizou a situação cheio de sabedoria, mas não só pelo um centavo e sim pela situação calamitosa que está nosso país e nosso planeta. Também não podemos achar que é certo pedir centavo aqui e ali.
Um amigo meu disse um dia, nada justifica uma pessoa pedir esmola se ainda existem muitas gramas para serem cortadas. Trabalho tem, o que não tem é alguém que eduque o povo corretamente a buscar as suas necesidades humanamente.

abração
Vinicius Colling

11:03 AM  
Anonymous Anônimo declare...

huehuehue!
Muito boas essas histórias... Na real não sei qual das duas eu gostei mais. A rua é uma bela escola (não que eu queira ir pra rua para aprender), mas tu vê cada coisa. Foram atitudes inteligentes nos dois casos, mesmo que em histórias distintas.
Conhece o entregador de panfleto que ficava nas proximidades da Ipiranga entregando o "Kit Propaganda"? Há uns 4 anos atrás o cara juntava um bolo de panfletos de diversas empresas (confeitarias, imobiliárias, etc) e te entregava tudo de uma vez na sinaleira...Lendo assim não parece tão legal, mas o bom humor do cara fazia ele vender o peixe dele..e olha que ele ganhava umas moedas grandes, hein? ;)
Beijo e Feliz dia do amigo!

1:02 PM  
Anonymous Anônimo declare...

Ops! Não adicionei meu nome no post acima...Beijos, Germana!

1:04 PM  

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