like gods of the sun

Estava com saudade da Porto Alegre que me arrepia... o ventinho geladinho no final da tarde e no início da manhã, as folhas que começam a cair, o tom acinzentado dos dias nublados (adoro dias cinzas...) e claro, o tom do outono chegando de mansinho no mês do meu aniversário: abril em Porto Alegre sempre é um mês especial. Claro, não só pelo meu aniversário, mas é pelo início do frio e todas as coisas boas que ele traz pra mim, tanto na memória quanto no meu dia-a-dia.
Sim, assumo que é mais difícil acordar de manhã, mas nada melhor que sair na rua e sentir o nariz congelar, colocar dois casacos e parecer um urso polar atravessando a rua. Adoro a sensação de olhar da janela de dentro de casa e pensar "nhaaaaaa... que frio!!! xD". Fora que por aqui as coisas ajudam muito: lareira, chá quente, Gramado, cobertor de orelha (Mozi \o/), e claro, uma boa dose de bom humor pra encarar aquele banho num dia congelante.
Eu teria mil motivos pra amar o inverno e se pudesse, enumerava um por um, mas tem alguns que nem eu conheço direito, que são elementos em mim que se manifestam com a baixa temperatura e só desse modo... nenhum outro.
Meus ouvidos escutam a música de um jeito diferente, meus olhos vêem através dos tons laranjas muitas outras cores novas, e ainda assim, velhas conhecidas. O cheiro do frio (alguém já sentiu o cheiro do frio? :S) e todas as memórias que eu trago envelhecidas e fortificadas de muitos anos atrás.
Acho que a nostalgia do post do Otto acabou me trazendo boas lembranças, e ontem quando esperava a carona na frente do Champagnat pude compartilhar com o silêncio o prazer do meu primeiro arrepio (de frio) do outono.
Coisas pequenas que pra mim são gigantes, enormes e até meio inomináveis, frente à incapacidade da língua portuguesa de traduzir com detalhes explícitos o que nem eu mesma sei explicar.
Mas sentir... ah, sentir eu sei ;)


No dia 2 de maio de 2005 escrevi esse texto, que acabei guardando até agora, embora já tivesse publicado no meu esquecido "MySpace"... acho que cabe hoje a reprodução autorizada. :)


Outono em Porto Alegre
"Aqui, um outono meio inverno, às vezes mais pra verão, com cara de primavera.
Assim é o outono em Porto Alegre. As ruas cheias durante o dia, o centro caótico de ambulantes, cd's piratas, loto, sena, aposte na sorte pra não chover de surpresa... mas nesse caso, vende-se guarda-chuvas também. Flores, bancas de artesanato, exposições em todos os Museus e Centros Culturais, tão itinerantes quanto as senhoras e senhores que transitam na Rua da Praia ou sentam na praça pra dar comida aos pombos. Uns aqui, entre as intermináveis filas de banco, outros ali, tomando um suco ou acompanhando o Grenal do lado de fora da loja.
Quem acreditar em superstição, não passe embaixo daquela escada em que o pintor se equilibra pra arrumar a fachada da velha antiga padaria... Mas vale à pena parar pra tomar um café bem quente.
De tarde começa a esfriar, o sol deixa o centro e se limita ao Gasômetro, onde mais uma vez vai acontecer o show de todas as tardes porto-alegrenses: o Pôr do Sol do Guaíba. Prepare seu chimarrão, calce seu tênis e ponha a coleira no cachorro.
Noutro canto do centro, alguém no Hospital da Santa Casa olha pela janela, segurando o soro pra não parar de pingar... repara lá embaixo no caminhar rápido e incessante da Rua dos Andradas, imagina se as pessoas sabem que o tempo só atrapalha quem se preocupa com ele.
Mais uma tarde em Porto Alegre se vai. É outono, mas as folhas ainda estão nas árvores. Vão cair, sim, mas ainda não se renderam. Algumas ainda vão conseguir se segurar nos galhos velhos dos Ipês da Redenção, mas assim como nós, não sabem até quando vão poder contemplar a vista do topo.
Mais uma lenha na lareira, e um pingo de conhaque no capuccino pra guardar com mais calor essa cidade linda que cada vez mais é meu chão, aqui e onde eu estiver, sempre."

:) Tchaus!


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