fevereiro 02, 2006

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The Last Breathe




Tá.

ASSUNTO I

Vou só avisar um negócio... quem disse que mulher não sabe dirigir, mentiu. Mulher barbeira tem (e cabelereira também, tendeu? tendeu?), mas que tem mulher que é NINJA na direção, ahhhhh tem. E vou explicar, claro, o porquê da minha afirmação.
Hoje de tarde (agora há pouco) fui com a Carla no velório do pai de um colega muito querido, fomos conversando, paramos no posto e ela foi conferir se a água tava ok. ELA foi. Não foi o cara. Botou gasolina e seguimos. Entrou contramão no Cemitério, estacionou bem pertinho da Capela. Nada mais que o normal. Cadeirinha de criança no banco de trás, boneca no chão, lixinho na palanca da mudança, uma mãe normal. Dita normal, ao menos. Chegamos lá e aí, vide o ASSUNTO II. Na saída, a gente vinha conversando de novo, claro, as duas falando da vida alheia, da morte alheia, essas coisas, quando de repente um velho louco decide parar na sinaleira da Bento no AMARELO. Ok, eu sei, cautela no trânsito é o que há, eu que o diga! Mas agora... poxa... feriado, o cara pára o amarelo, e a Carla? Vinha embalada!!! Puuuuuuuuutz, eu só baixei a cabeça e pensei "puta-que-pariu...". Mas EIS que a Carla, numa manobra inimitável, NINJA, SAMURAI, táca o pé no freio, senta o nariz do carro no chão e dá um cavalinho de pau em plena avenida, com direito à paradinha DO LADO do carro do véio, que olhava APAVORADO pelo retrovisor... ele deve ter pensado "cara... cadê o carro branco?!?" E ali estava ela, estacionada, lado a lado com ele na sinaleira. NINJA! Vinha um carro da Band atrás de nós, que parou na outra pista, e bateu palmas pra ela.
Eu?
Eu tava colada no banco, quase vomitante, meio tonta e meio apavorada, semi-derretida no estofamento.
Mas olha... A Carla é Ninja.
E não me digam hoje que mulheres não sabem dirigir. HOJE não. A Carla me salvou.

ASSUNTO II

Cara, esse assunto é foda, mas não posso deixar de falar nisso... Tipo, o cara tava legal, foi pro quarto se deitar e MORRE. Do nada. Simples assim. PORRA, que isso?!?
A única certeza que a gente tem na vida. É isso mesmo, meu filho. Assim como ele empacotou, eu quase empacotei e um dia tu ainda vai empacotar... e sabe-se lá que dia será, que horas serão. Tem velho que morre de tesão, tem guria que morre de amor... mas é assim.
Pra nascer a gente marca a Cesárea. Sabe a hora que o nenê vai nascer, filma ele saindo da barriga (eu acho o cúmulo... o cara já nasce sem privacidade...), a mãe chora, a avó berra, o irmãozinho acha um saco e o pai desmaia... mas... e pra morrer? Não dá pra preparar nada! Não dá tempo de dar tchau, de fechar a porta, não dá tempo nem de fazer a barba e nem de fechar o zíper... mas não tem problema, porque depois que morre te colocam a melhor roupa, te põe deitado numa almofada de cetim, compram flores, arrumam teu cabelo, te põem sapatos novos... a família toda se reúne, inclusive os menos chegados, e rola aquela confraternização mórbida... "Meus pêsames, Fulana... Viu como a Beltrana emagreceu?" Normal.
Fofoca de velório. Um conta como o cara morreu, outro chega e ele conta de novo, a tia gorda chora sentada, e nem lembra mais quem morreu... a outra dorme na poltrona... e tem sempre a fiasquenta, que fala alto, chora alto, ri alto... coitada. Tá nervosa.
Não dá pra negar que é a coisa mais triste pra quem perde alguém que ama muito. Mas ficar fazendo confidência e dizendo coisas carinhosas sem nunca ter feito isso quando o cara respirava já é demais! O negócio é aproveitar.
Não tem coisa mais certa de que quanto mais velho, mais provável é a morte, então que se sente no colo da avó, que se morda a bochecha do avô, ou do pai, ou da mãe... Cheiro de velho, tipo Alma de Flores, é tri bom! É bom o cheiro da casa da avó, acaba trazendo lembranças... Eu telefonei pra minha vó hoje. ela tá com Alzheimer (é assim que escreve?!?) e provavelmente nem sabe quem eu sou. Mas eu sei que eu liguei.
Os babados que eles têm embaixo dos braços, o cabelo branco, as mãos enrugadas... velho é a melhor coisa do mundo! Disco velho, livro velho, Uísque velho, tanta coisa boa que a gente deixa pra trás e nunca mais olha...
Eu fiquei abalada com essa ida ao cemitério. Vi Esmerildas, Astolfos, Camélias, Ofélias... mas vi também Tamaras, Julianas, Marcos... Gente jovem, gente jovem demais. Gente que não viu nada. Gente que nem aprender a caminhar teve tempo de aprender. Mas eu tenho certeza que alguém aprendeu alguma coisa com eles.
Eu por exemplo.
Quando eu era mais nova, ia pro cemitério desenhar as estátuas. Passava horas desenhando com crayon, coloridas, porque todas eram brancas. Quem disse que os anjos são brancos? Se os anjos são brancos é porque as pessoas enxergam assim... Talvez porque a morte seja de cor nenhuma, e quem vem buscar quem se vai também não deve ter cor.
Os meus anjos sempre foram coloridos...

... e sinceramente... se o meu era branco, eu pintei quando era criança.
[na foto, eu e minha gata Morgana]

4 Thoughts:

Anonymous Anônimo declare...

COMMENT I/ASSUNTO II

Tão certa quanto a morte, só a dor que sentimos ao perder quem nós amamos...

Pois é. Às vezes, parece que as coisas ruins se reunem e decidem tramar um complô contra nós. Então, de repente, elas chegam todas ao mesmo tempo... BUM! POFT! CRASH! Just like that!

Perdi meu cachorro. Tá! Já faz quase oito meses, eu sei, mas, às vezes, essa perda parece ser algo que jamais conseguirei superar. Afinal, a Tutti não era apenas um cachorro, era minha companheira, minha confidente, minha cúmplice... Minha alma gêmea!

(E eu não tenho culpa se a minha alma gêmea nasceu como um cachorro nesta vida, portanto, qualquer informação, dúvida, sugestão ou reclamação, ligue para 0800.2006 e as teclas D-E-U-S do seu telefone.)

Então, a minha "irmã gêmea" - embora ela tenha nascido um ano e oito meses antes de mim - descobriu que, em uma transfusão de sangue, há vinte anos atrás, durante um período em que esteve entre a vida e a morte no hospital da PUC, contraiu o vírus da Hepatite C, uma doença tão degenerativa quanto a AIDS, mas que mata muito mais gente que o HIV, e que, por esse e outros motivos, não é divulgada pelo Governo Federal.

Porém, todavia, contudo, existe um tratamento! Um tratamento que custa cerca de cinqüenta mil reais!!! (E esse é um dos outros motivos.)

O Governo não pagará o tratamento dela (e nem o de "ninguém") até que o estágio da doença esteja mais avançado, ou seja, até que ela esteja mal pra caramba. O plano de saúde também se recusou a pagá-lo, mas ela já entrou com um novo recurso, para o qual estamos esperando uma resposta.

Aliás, falando nisso, nós temos uma tia em Porto Alegre que está em fase terminal da mesma doença. E, todas as vezes em que ela vai para o hospital (para fazer uma punção no fígado - que já não funciona mais - ou com algum tipo de infecção, inflamação e complicação decorrentes da vulnerabilidade causada pela Hepatite), a minha irmã entra em pânico em Brasília.

Ela não conversa com a nossa mãe (e melhor amiga), porque não quer deixá-la mais preocupada e angustiada; não conversa com o próprio marido, porque ele não admite a doença e nunca fala sobre o assunto; não conversa comigo, porque estou longe e ela não quer "atrapalhar" a minha vida com os problemas dela; e não conversa com um terapeuta, porque o plano de saúde também não cobre as consultas.

Enfim, de tanto guardar seus medos, angústias e tristezas, a minha irmã vai acabar desenvolvendo algum tipo de câncer e morrendo disso!

Mas, enquanto isso não acontece, nos primeiros dias deste ano, foi a minha Nona quem resolveu morrer!

Tá, ela já estava velhinha, eu sei.
Tá, ela teve um derrame em outubro passado e estava frágil desde então, disso eu também sei.
Ela telefonou para a casa da minha mãe poucas horas antes de morrer e fez questão de falar com todas nós, que, "coincidentemente", estávamos por lá. Disse o quanto nos amava, quanta falta nós fazíamos e, sem que percebêssemos, ela se despediu.

E daí?

Quem disse que a gente está preparada para encarar a morte de quem ama?
Mesmo se for de alguém que já viveu bastante, fez e falou tudo o que tinha para fazer e falar e que, ainda por cima, ligou para dar tchau?

Quem disse?

Bom, eu sei que eu, pelo menos, não estou! Nessas horas, eu esqueço de Deus, de Buda e de Alá, ignoro os livros do Kardec e as palavras do Chico, não lembro dos anjos, das fadas e dos duendes. Penso apenas em mim e nos outros que aqui ficaram, e que, assim como eu, ainda estão chorando.

Egoísmo? Talvez...

7:52 AM  
Anonymous Anônimo declare...

COMMENT II/Concluindo...

O problema é que, cercada de tantas sombras, e neuroparanóica do jeito que sou, não consigo evitar que o negativismo domine os meus pensamentos.

Penso na minha sobrinha e fico louca imaginando o que pode acontecer a ela. Já avisei à minha mãe: "Não ouse morrer sem mim!".

A morte pode ser a nossa única certeza, pode ser algo tão natural quanto a vida, pode ser o que for... whatever! Pouco me importa!

O que sei é que já estou cansada de perder.

É! Cansei!

Posso ser nova, posso ter que viver muito mais tempo e, com isso, perder muito mais do que já perdi durante esses meus "primeiros anos" aqui. Mas quero deixar bem claro que eu cansei!

E grito bem alto para quem quiser me ouvir: CHEGA!

Para completar o quadro, assim que cheguei de viagem, fui lavar o meu travesseirinho, meu belelo, com quem eu dormi durante os meus vinte e seis anos de vida. E quer saber? Ele decidiu "morrer" também: seus forros - reforçados ao longo de todos esses anos - simplesmente se desfizeram, espalhando pequenos flocos de espuma por todos os lados.

Imaginem a minha felicidade...

Chorei por ele, pela Tutti, pela minha irmã, pela minha tia, pela Nona, pela minha sobrinha, pela minha mãe, pela minha outra irmã...

Chorei pela saudade da minha infância, pela distância que me separa de quem eu gosto...

Chorei pelo calor que está fazendo em São Paulo, pelo preço da faculdade, pelo emprego que eu não tenho...

Chorei pelos bebês abandonados, maltratados e mortos pelos próprios pais...

Chorei pelo barulho que vem da rua, pela música que sai do meu computador, pelo comercial de margarina da TV...

Depressão? Provavelmente...

8:39 AM  
Blogger Luciano Sky declare...

Para manter a assiduidade, um pequeno comentário sobre o assunto 2: é o Ciclo da Vida! Um belo filme sobre este assunto é O Rei Leão, recomendo veres junto com o Iggy... =)

7:21 AM  
Anonymous Anônimo declare...

Hakuna Matata !!!

1:03 PM  

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