julho 25, 2006

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the unknown shoe



Ontem eu fui num clínico geral... ando bem depressiva de novo, então achei que deveria tomar a tal Fluoxetina¹ que me ajudou um bom tempo. Claro, com a receita azul, tudo direitinho, marquei a consulta numa clínica da frente da minha casa, que eu nunca tinha ido (a gente geralmente não vai em médico perto de casa, ainda mais do outro lado da rua!), e fui, fiz a fichinha, assinei a folha do convênio, esperei um tempo sozinha na sala e então o Dr. Carlos (que acho que não chegava a ser Doutor...) passa com a minha ficha na mão e balbucia "Vamos lá?". "Vamos."
O tal Dr. Carlos parece saído dum filme... Ele tem o cabelo grisalho, já bem apoucado, mas o que resta é comprido, e amarrado numa borrachinha cinza velha. Blusão cinza embolotado, calça jeans surrada, não vi o sapato, mas devia ser tênis... (aliás, por que eu não olhei o sapato?!?), grandes olhos verdes, um óculos do século passado, grau "infinito".
"E então, que tu quer?" ... educadíssimo.
Discorri sobre todas as %X##&% que estão afetando minha produtividade, as alucinações voltando, as sensações, o pânico, os motivos, tudo. E ele ali, me olhando.
Resumindo, quando ele começou a falar, me explicou sobre um "triângulo de realidade e loucura" que acho que ele inventou na hora. Tivemos uma discussão nada breve sobre o real e o irreal, o sensitivo e o insensível, sobre o que era causa e consequência, átomos, partículas, até sobre membranas moleculares. Passamos por energia, ego, lógica, óbvio e sobre os caminhos burros que a mente toma pra chegar à realização de um desejo. Presente, passado, futuro, lembrança, memória, tudo. Discutimos sobre tudo, praticamente. Ele, defendendo os pontos dele, eu defendendo os meus, questionando umas viagens que ele dizia... tipo papo de bar.
Quando ele finalmente parou de filosofar, me deu o diagnóstico: "Assim... pelo que eu pude perceber, tu é uma pessoa que se acha muito inteligente. Só que é burra, mesquinha, mentirosa e prepotente. Mente pros outros, pra ti mesma, com uma cara de pau absurda, e tu sabe por quê?" (imagina a minha cara à essas alturas...)... "Ahm..."
"Porque tu não tem a menor idéia do que é real e do que não é. O nome disso é loucura. Tu ter um distúrbio não significa que tu vai matar alguém, mas certamente significa que tu vai pensar nisso e cogitar, em algum momento, alguma solução absurda pra um problema que provavelmente é simples.
"Ok, ok... ego feridíssimo, quase enfiando a mão na boca dele, metade de mim queria matar e a outra metade esfacelar o tal Dr. Carlos, respirei fundo e disse, me colocando no lugar da paciente "... E o que eu devo fazer então?"
Aí ele me contou a história da vida dele. Me perguntou se eu acreditava em Deus. Claro, aí foram mais uns 20 minutos de defesa de pontos de vista diferentes, com direito à relembrar Roma e tal, eu defendendo a ciência e a física, ele defendendo teorias lidas e interpretadas, eu defendendo a fé como representação do dito "Deus" e ele personificando a energia em um só Ser Divino, dito dele "Deus" também.
Bem... Uma hora e vinte minutos depois, a sala de espera cheia de gente, chegamos à conclusão de que eu não ia engolir as idéias dele em tão pouco tempo e com tão poucas provas lógicas e coerentes, que ele não ia aceitar meu ceticismo como credibilidade na composição das coisas, na matéria.
Receita dada. Aperto de mãos e eu saio dali pensando "Cara... eu só cruzo com gente maluca nesse mundo...", enquanto provavelmente ele pensava "Coitada, doida, a pobrezinha..." depois de me anexar alguns substantivos um tanto quanto "anormais" pra uma consulta com um Clínico Geral.
O tal Dr. Eremita esteve a vida toda ali na frente da minha casa e eu nunca tinha visto ele, nem ele me visto. Me puxa isso um pensamento: que mais anda por aí esperando uma oportunidade de me desenhar?
Como é que ele vai saber em 1h e 20 mins se eu sou burra, mesquinha, egoísta, etc?
Não acho que numa situação normal de depressão ele teria ajudado o paciente, se ele não fosse tão paciente como eu. Ou o cara batia nele, ou saía dali e se matava. Nada menos que isso.
Bom, valeu o papo, as dicas de como agir com os juros do cartão de crédito, e claro, a receita.
Mas que foi surpreendente encontrar alguém tão disposto à me xingar, ah foi! =oP

ps1: O consultório tinha o mesmo cheiro da casa da minha avó paterna... Lá fui eu, claro, prum mergulho nas minhas lembranças enquanto esperava.
ps2: Estou intrigada com o sapato que ele usava... seria tênis? Seria bota? Chinelo? Alpargata? Ai, eu devia ter olhado =o/

Fluoxetina¹: A fluoxetina é um antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina de quarta geração. Suas principais indicações são para uso em depressão, transtorno obssessivo-compulsivo (TOC) e bulimia nervosa.Substância ativa: Cloridrato de fluoxetinaFormas de apresentação: cápsulas e solução oral. Possui poucos efeitos colaterais, se comparado a outros antidepressivos. Normalmente demora de 15 a 30 dias para que o paciente note os efeitos. Permanece no sistema durante 15 dias em média. + [wikipedia]

Bom... de todas as "tinas", talvez essa tenha uma função mediadora entre meus lapsos de realidade e insanidade... Mas que não me tire as funções básicas... falar sozinha, falar dormindo, sair do ar, rir quando não pode, essas coisas...

Pedaço do diálogo:
Dr. Carlos: "Tu te acha inteligente?"
Drika: "Claro."
Dr. Carlos: "Bem, tu não é. Tu é burra, pobre de espírito, porque acha que é inteligente sendo que usa o teu cérebro da forma errada e faz associações estúpidas."
Drika: "Bom, pelo menos eu uso meu cérebro... e tento tirar o máximo que eu consigo, que pode não ser muito, mas pelo menos
tento ir até onde consigo..."
Dr. Carlos: "Pois é, pois tu te acha mais inteligente que muita gente, é prepotente e mesquinha, e mentirosa. Uma grande mentirosa. Tu não é mais inteligente que ninguém. Ninguém é mais inteligente que ninguém."
(...)
Dr. Carlos: "Essas pessoas que não acreditam em Deus não sabem o que estão fazendo."
Drika: "Eu acho que cada um tem todo o direito de acreditar no que quer."
Dr. Carlos: "Porque Deus deu esse direito, de escolha... só que a maioria das pessoas são absolutamente ignorantes e ficam tentando ir pelos caminhos mais fáceis mesmo que isso custe caro."
Drika: "E tu te acha mais inteligente que essas pessoas?"

(...)

=o)
Bééééééééé.

[eu, ou o que anda por aí dizendo que é.]

julho 17, 2006

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kryptonite



Hoje eu decidi postar mas não de mim. Decidi postar das coisas que vejo do lado de fora das janelas, as pessoas que eu vi uma vez e nunca mais vou ver, e daquelas que nunca vi, e daquelas que sempre vejo mas nunca interagi, das que eu interajo por rotina, mérito ou obrigação. Enfim, nem tanta gente assim, mas um pouco de reflexão sobre os seres.
Ontem eu tava indo pra casa de carona com o Ene, a gente foi num barzinho da Lima e Silva (Cavanhas), tomou umas cevas e foi embora relativamente cedo (trabalhar no outro dia, né meu filho :/).
Na sinaleira, como de costume, tinha um piá dos seus 11 anos limpando um pára-brisa de uma... ahm... caminhonete grandona, preta, sei lá se era uma Cherokee... eu só reconheço carros velhos mesmo... hehe... e aí depois do trabalho feito, o piá chegou no vidro e disse pro tiozinho: "Aí, tio, tem uma moeda aí?" e o cara responde: "Tenho, mas a coisa tá feia, peraí. (...) Ó, toma." e larga a moeda na mão do menino, que olha e revida espantado: "UM centavo, tio?!? UM centavo?" e o cara responde "É, tá fraco!". A reação do guri eu nunca tinha visto. Ele pegou a moeda, DEVOLVEU pro cara e disse: "Tio, fica com isso, vai te fazer falta." e a sinaleira abriu, o guri correu entre os carros pra não ser atropelado, o cara arrancou no seu carrão de luxo e eu e o Ene ficamos embasbacados com o que o guri fez. Não o fato de ele ter devolvido a moeda, se fosse eu mandava engolir, mas pelo fato de ele ter dito "Vai te fazer falta." Nessas quatro palavrinhas o cara foi xingado de murrinha, egoísta, e sem ser insultado com palavrões. Não precisa de palavrão. Precisa de realidade. Verdade.
Agora outra situação: Paramos, dessa vez eu e o Sander, o carro na sinaleira. O guri veio, mais que ligeiro pra cima do carro com um pano na mão. Imediatamente o Sander disse "Putz, eu mandei lavar o carro anteontem!". Nisso chega o guri, sem nada na mão, e faz uma mímica perfeita como se estivesse lavando o vidro com aqueles rodinhos que eles usam. Fez perfeito! Os movimentos de ensaboar, tirar o sabão nos cantinhos, passar o paninho, levantar e baixar os pára-brisas, porém ele não encostou UM DEDO no carro. NADA. Quando ele acabou a peça, veio no vidro, fez um agradecimento teatral e disse "Bem limpinho, hein, tio! Tem uma colaboração pra mim?". Eu tava com uma grana na mão, não me lembro por qual motivo, mas acabei dando bem mais que o normal que se dá pra esses meninos, porque eu realmente achei a atitude dele, a idéia dele, genial! O guri se tornou uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço. Não sei, nunca mais vi ele. Mas nunca vou esquecer daquele mini-ator, com uma mini-vida, mini-esperança e uma idéia genial na cabeça.

Bem. Resumindo meus dias (afinal, esse é meu blog e eu vou falar um pouco de mim...) tenho trabalhado muito... muito, muito. Essa semana passada foi a última de um trabalho que estamos fazendo com a Microsoft... Acho que vai dar uma folgada. Mas nem por isso estou ruim, ou chateada. Mudanças diretamente relacionadas à relacionamentos (redundante!), coisas boas e ruins. As coisas ruins eu tento abstrair, e as boas, eu junto uma argamassa pra seguir construindo em cima. Tenho me olhado no espelho e ficado bem satisfeita, isso não acontecia há um tempo, teve uma época que eu me apaixonei por mim mesma, meio que uma fuga dos meus maus pensamentos naquele momento, mas já voltei ao meu normal, que é não ser normal. Não consigo ainda aceitar certas coisas, mas estou me adaptando à minha nova forma. Não só a externa, mas a interna também, e posso confidenciar que é difícil e eu ando vencendo barreiras. Meio triste com uma ausência que ainda não existe... assim como feliz com coisas que não aconteceream, coisas que não ouvi nem vi, porém me fazem feliz só de serem cogitadas como possíveis.

Situação do clima em Porto Alegre: Veranico meio desencontrado, atravessado na garganta do inverno, deixando todo mundo pestiado, gripando, farmácias cheias, e agora, hoje a chuva chegou pra completar a coisa desengonçada que anda o tempo. Nada anormal pra quem leva uma vida "el niño".

[Na foto, eu, óbvio, afinal,eu sou a heroína desse 'ploc' ;D ]

julho 04, 2006

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behind those eyes (i wonder)




Aventuras, aventuras!
Finalmente um pouco de gás na minha Coca-Cola!Mas não é bem uma aventura, é uma volta ao meu cotidiano que fazia um tempão que eu adiava... não sei, insegurança, falta de saco, qualquer desculpinha esfarrapada que eu posso arranjar, mas hoje, ah! Hoje eu me senti muito feliz por estar sozinha dentro dum ônibus semi-lotado, com pessoas me dando mochiladas, cheiros matinais nada agradáveis, sacolas, barulheira, assobio do cobrador, buzina, xingamento, palavrão, asfalto, pessoas que eu não tinha a menor idéia de onde vinham e pra onde iam. Encantador!
Saudade do meu discman, que sempre trazia um Led, um Maiden, um Nightwish pros meus ouvidos ainda meio dormindo, em todos os anos da minha vida em que peguei ônibus.
Eu vinha pensando mil coisas, meu "faro" intuitivo indefinidamente sem noção já vinha fazendo novelas pra cada indivíduo, tentando adivinhar a cor preferida, olhando pras unhas das meninas (sabe, as mãos falam muito das pessoas), pra o gel ainda molhado do cabelo do garoto, pra meia de lã da senhora, dos pequenos detalhes dentro do ônibus, bancos, janelas.
Tive tempo de curtir tudo. Cada pedacinho desse cotidiano massante que abafa um pouco os desejos de cada um todos os dias.
Como disse o Joca¹ no blog dele, cada dia é um dia diferente, e o que me faz sentir feliz e ao mesmo tempo tensa é o fato de não saber o que vem depois. Vivo sempre meio excitada, meio cautelosa, porque eu sei que as coisas são assim. No meu mundo, tudo volta ao normal, com um quê a mais que antes eu não tinha.
Sentimentos novos, praticamente colados na minha retina, trabalho, muito trabalho, responsabilidades, uma incomparável negligência aos meus tempos idos. Não acho que me traia. Às vezes até consigo esboçar uma lembrança ainda válida, sem eu ter revisto e mudado o ponto de vista, ou mudado de novo e de novo.
Eu sempre tento esmiuçar o máximo das pessoas, o quanto elas deixam escapar, o texto do jornal, a bula do remédio... Curiosidade é um dos meus pontos... Fracos? Fortes? Ah, aí já não sei, mas que é um ponto vital meu, é.
Esmiúço aqui cada frase, e tento colocar a idéia mais pura que me vem, mas nem sempre sou clara.
E nem quero ser clara... prefiro meus segredos.

(Ah... os meus segredos... hmmmmmmmmmmmm) ;D

Joca¹: colega de PoC da Microsoft, escritos, grande amigo (mesmo que ele não saiba... :P)

[Eu fazendo pose! Ô guria exibida, hein?!?]